sexta-feira, 27 de abril de 2012
Alexandre Parafita
Alexandre Parafita é um grande escritor.
Um dos livros mais engraçados é Bruxas feiticeiras e as suas maroteiras.E agora vamos falar-mos sobre esse livro
Por cortesia da Texto Editora, acaba de me chegar às mãos mais um livro de um dos mais profícuos autores de Literatura Infantil portugueses: Alexandre Parafita. O livro chama-se “Bruxas, feiticeiras e suas maroteiras”, está integrado na colecção “Contos e Lendas de Tradição Oral” e é enriquecido com belas e sugestivas ilustrações de Fátima Buco.
Recorde-se que este autor, há menos de três meses, havia publicado, também na Texto Editora, o livro “Diabos, diabritos e outros mafarricos”, e escassos meses antes, na editora Âmbar, o livro “A mala vazia”. Sempre lançado por grandes editoras (a estas duas, juntam-se também a Asa, a Porto Editora, a Plátano, a Impala, a Civilização, entre outras), os seus livros chegam facilmente a muitos milhares de leitores de todo o país. E as reedições sucessivas que têm são a melhor prova do agrado generalizado do público (o público que lê, obviamente).
Mas porquê este interesse crescente pelas obras de Alexandre Parafita? A meu ver, a resposta assenta em três razões fundamentais:
1 – A opção, em grande parte dos seus livros, pelas histórias revitalizadoras da tradição oral. Há nelas, geralmente, uma componente mítica, fabulosa, misteriosa, que fascina, em especial, as crianças. E Alexandre Parafita move-se como ninguém neste terreno, dada a sua condição de pesquisador e estudioso da literatura oral tradicional (faz parte, como investigador, do prestigiadíssimo Centro de Tradições Populares Portuguesas da Universidade de Lisboa).
2 – A estrutura e o estilo narrativos. A estrutura assenta num jogo coerente de combinação de estados e incidentes em que o trágico é, como diria Jolles, simultaneamente “proposto e abolido”, de forma a permitir que sobressaia o sentimento de acontecimento justo, tal como a criança o interpreta. E quanto ao estilo, é de realçar o jogo hábil e estimulante dos diálogos, a ludicidade das formas rimadas e o uso de toda uma estética literária muito enriquecedora no universo criativo da criança.
3 – A ética e a estética das mensagens. Alexandre Parafita é criterioso na selecção e na abordagem das mensagens que transmite aos destinatários da literatura infantil. E se, de um modo geral, vai de encontro, através delas, às grandes preocupações das sociedades modernas civilizadas (com as suas problemáticas ambientais e ecológicas, os valores da justiça e os direitos humanos, a dualidade do bem e do mal...), consegue também, de um modo muito especial, introduzir no universo perceptível da criança algumas marcas da idiossincrasia identitária de um povo, fazendo conviver coerentemente os saberes e os valores consagrados na tradição com a necessidade de uma re-significação perante os novos desafios da modernidade.
No livro “Bruxas, feiticeiras e suas maroteiras”, a consagração destes três princípios é ainda enriquecida com a graça e o humor inteligente das histórias narradas. E ao mesmo tempo o leitor fica a conhecer alguns dos “segredos” desses seres fantásticos que habitam o imaginário popular e, especialmente, o imaginário infantil: Que “a bruxa nasce, a feiticeira faz-se” e que “cá e lá, más fadas há”. Mas também que umas e/ou outras despejam o vinho das pipas aos lavradores, dançam nas clareiras nas noites de Sexta para Sábado, untam-se com “ungentos” misteriosos, voam em vassouras, transformam-se em galinhas, porcos e gatos, e fazem feitiços aos animais para que definhem. E pode ainda o pequeno/grande leitor, através destas narrativas, interpretar melhor alguns dos símbolos que as acompanham (a vassoura como objecto mágico das bruxas, a varinha de condão das fadas e a peneira das feiticeiras...).
São, afinal, histórias da tradição oral, que o autor recolheu, compilou e estuda no âmbito de um trabalho científico muito reconhecido, mas que agora reconta e recria em linguagem e estilo primorosamente ajustados ao gosto infantil. E também não é por acaso que o livro é dedicado a uma nova geração de contadores de histórias (Ana Santos, Ângelo Torres, António Fontinha, Cristina Taquelim, Fátima Vale, Horácio Santos-“Lalaxo”, Joaninha d’Almeida, Jorge Serafim, Luzia do Rosário, Patrícia Pereira e Pedro Daniel Pereira), a quem o autor apela para que façam regressar os contos “ao mundo mágico em que nasceram: a oralidade”. Porque o texto escrito, quer queiramos ou não, é apenas um registo recorrente nesta ânsia que temos de comunicar
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